segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Das graças que eu tenho

No decorrer do meu dia, me pego a pensar que minha vida é simplesmente irresistível. Tenho tanta coisa boa, que por vezes não me acho merecedora. Mas, como as recompensas são dadas por algum merecimento, não questiono tanto, ou ao menos tento não questionar.
Sou alegre, irônica, pensativa, reflexiva e muito questionadora, não me contento com respostas vazias e triviais.

Para mim, o maior mistério da minha vida é ela própria, com suas inúmeras nuances e desafios. Tenho em mim um sentimento de gratidão que permeia minhas atitudes, minhas falas e meu modo de ser feliz. Nesta minha caminhada, tenho tido percalços como qualquer um, mas as graças se sobrepõem de forma arrasadora, ainda bem! Elas me acompanham desde o meu nascimento. Deus me deu de presentes pai e mãe maravilhosos. Hoje vou falar dele, do meu papai.

Quando lembro da minha infância, me vejo sentada no colo de meu pai, ele a pentear meus cabelos, com infinita ternura e jeito severo, tão marcantes em sua personalidade e que trago em mim como herança em alguns preceitos, em algumas atitudes. Herdei muitos traços dele em meu caráter: o gosto pela leitura, pela política, mesmo que sempre tenhamos orientações e percepções diferentes, o desprendimento, o falar baixo. Muitas vezes sou tão taciturna quanto ele.
Lembro também de nossas viagens, eu, ele e Dida. Quantas eu e ela não aprontamos sem ele nem perceber? Das aulas de tiro, das viagens de jipe, e das mordidas inocentes dadas nas professoras do Projeto Rondon. Puro ciúme filial. Pura peraltice.

Meu pai, sempre foi e é dócil. Amável, prestativo, atencioso e brigão. Quando digo brigão, não me refiro às sovas ou sermões sem propósito, ele não perde tempo com isso. Falo especificamente daquelas aulas de matemática no quintal, com palmatória e das aulas de trânsito, em que a paciência dele era curta, ao me ver toda destrambelhada, sair de segunda, estancar, ou parar no meio da rua.
Refiro-me aos seus conselhos sobre autenticidade e caráter ilibados, que tento imprimir no meu viver como tatuagem permanente. Não sei se consigo, ao menos tento.
Refiro-me à sua zanga  quando não estudava, ou quando ia atrás dele, para vigiá-lo, ora pelo ciúme de filha primogênita, ora pelos ciúmes de mamãe, que tem sangue quente nas veias, e de quem herdei o gênio forte e ciumento. Ele se zangava não porque eu ia atrás dele, mas por eu aprontar todas as travessuras possíveis e imagináveis.  Contudo, no final, ele acabava por sorrir com seu jeito tímido  e quieto.

Meu pai é um exemplo raro e inestimável de ser humano. Não é só porque é meu pai. É sua própria essência. Um homem sensível, pé no chão, honesto, durão, carinhoso, chorão, quase não sorri, a não ser das minhas piadas bobas que eu nem sei contar. É um avô amantíssimo, um marido  doce e preocupado, que sempre se redime. Um trabalhador dedicado. Homem que sempre põe a família em primeiro lugar nas suas prioridades.
Pai prestativo, preocupado, bondoso, altruísta. É claro que tem defeitos. Todo mundo tem, ele é humano, não poderia ser diferente. Entretanto, o amor que ele me concede me faz não percebê-los, e quando os percebo ignoro-os. Não vale a pena ressaltar negatividades, ao menos para mim.

Gratuidades  desse tipo em minha vida, devem  ter algum significado muito além do meu entendimento, e mesmo que eu pergunte tanto,  talvez nunca ache respostas, por isso, vou vivendo-as, saboreando-as e sendo feliz. De uma maneira individual, única e extremamente benéfica ao meu corpo e à minha alma. Nem todo mundo tem essa sorte, disso eu tenho certeza.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Humm...que felicidade, você comentou!